quarta-feira, 19 de março de 2008

Um pedido de desculpas

- Dás-me a tua mão?
- Não sei. Tenho medo. Não sei se quero ir.
- Não tenhas medo. Estamos aqui os dois juntos, nada de mal nos irá acontecer.
- Não quero ir. Sou demasiado jovem...
- É apenas outro sítio. Outra vida. Outra magia. Outra luz. Dá-me a mão.
- Posso ir de olhos fechados?

Os dois amigos apertaram as mãos e foram felizes para sempre.


Para R. L.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Criança II

Ela está sozinha, a nadar, a flutuar, a olhar.
Dentro do seu próprio mar, descobre sensações, sítios, brincadeiras, afectos.

Cá fora, ninguém se apercebe das descobertas.

O Regresso

Lembras-te dos nossos tempos? Dos tempos em que chegávamos atrasados às aulas, dos tempos em que fazíamos bolos de areia, dos tempos em que trocávamos olhares cúmplices?
Dos tempos em que brincávamos na escola e os nossos corações davam as mãos?
É claro que te lembras. E desde aí, a nossa amizade nunca mais se distanciou.
Agora, voltamos a abrir as portas da nossa vida. Abrimos as janelas. Estamos novamente juntos.
Para sempre, para todo o sempre!

Para C.

sábado, 8 de março de 2008

O Dia Delas

Um enorme grupo de mulheres vem a descer uma montanha. Uma montanha linda, pintada de ternura, onde existem muitas flores. Borboletas e joaninhas reúnem-se para as ver chegar. Toda a Natureza pára para desfrutar do encanto daquela criação de Deus. As mulheres vêm a descer, com uma vela na mão. Os corações delas vêm a sorrir, também nas suas mãos. Deslizam. Sorriem. Respiram. Sentem. Cheiram. Ouvem e falam. E são o melhor do Mundo.
Sensíveis e maravilhosas. Acabam de descer a montanha. De sapatos na mão, sentem a Natureza com seus pés. A brisa que a essa hora se faz sentir obriga os seus cabelos a ondular e a flutuar, como se no mar estivessem. Os golfinhos dançam à volta delas. As estrelas do mar enfeitam aquele quadro lindo.
Atrás delas, só fica um rasto de amor. Amor ternurento e paixão ficam no ar, em forma de um enorme coração. Todas elas carregaram um filho, todas elas sofreram ao longo da vida. Seres frágeis, seres cativantes. Seres que já deram muito amor, e que ainda têm muito para dar.

Elas são o Melhor do Mundo.
E o dia de hoje é delas.

Para R.F.R.

quinta-feira, 6 de março de 2008

"Do Mal Ficam as Mágoas na Lembrança"

Perseguias a minha mente. Deslizavas pelo meu corpo suavemente, e eu quase nem dava por isso. Devagarinho, enchias-me o coração e a alma. Fazias com que o meu corpo se descontrolasse, perdesse o controlo. E eu já não o comandava. Já não era meu. Fazias com que os meus olhos vertessem uma lágrima, tão salgada como os teus lábios.
Todos os teus passos ficam marcados na areia. O mar vem e leva-os, mas não te consegue levar do meu pensamento.
O sol resplandecia, o mundo vivia. Até que me magoaste. Não vou invocar como nem porquê, custa-me pensar nisso. Só quero que abandones o meu corpo.
A traição é desumana. E de todos os males ficam mágoas na lembrança.
E eu não quero que me sigas todos os passos, porque ainda tenho muita areia por percorrer.


Nota: O título deste texto é um dos versos de um soneto de Luís Vaz de Camões.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Obrigado

Ouvir as suas palavras é como abrir a janela
Todos os dias de manhã
Todos os dias de manhã, sentir o cheiro do dia que começa.

Está sempre lá. O ombro está lá no mesmo lugar e permanece imóvel
Apesar de todo o peso que tem que carregar.

Escolhe as palavras mais belas para nos animar.
Escolhe o mais doce sorriso para nos deliciar.

Enfeita o Jardim de todos nós e o Jardim de cada um de nós.
E, ainda assim, consegue destacar-se, no meio de todas aquelas flores maravilhosas.
Cheiras bem, cheiras a amor.

Porque quando eu for grande, quero ser como tu.


Para P.

segunda-feira, 3 de março de 2008

Eclipse

É certo que todos nós temos dias menos bons. Dias em tonalidades de cinzento. Uns mais claros, outros mais escuros. Dias em que a vida não nos corre bem. Dias em que a torneira da banheira fica a pingar, fazendo ping, ping na água. O som propaga-se pela casa como um foguetão a descolar. O corredor, meio escuro, meio iluminado (a luz da casa-de-banho reflecte-se até ele), olha-nos com um ar triste.
O Outono e o Inverno invandem-nos o espírito. A felicidade não está presente. Uma lágrima teima em sair, mesmo sem ir buscar o seu guarda-chuva.
Já cá fora, rola pela face (tentando levar todas as agruras da vida consigo).
Porque todos temos dias menos maus.
Só me apetece eclipar-me deste Mundo para fora. Estou num Mundo ausente. Não é a minha realidade, nem a minha dimensão. Eclipsar-me daqui para fora, tão silencioso como uma pinga de água.

Criança I

Uma criança feliz e inocente brinca, descontraída e sentada. Uma criança que já chorou, já sorriu, já viveu.
Uma criança que ainda tem muito para viver. Com uma família que a adora. Nas suas mãos, fechadas ternamente em forma de concha, estão um homem e uma mulher. Os seus pais.
O coração da criança palpita. Os pais passam por ela e orgulham-se. A criança agradece tudo.

O tempo

Interrogo-me constantemente sobre o tempo.
Mais do que um problema, é um problema que passa rápido.
Eu estou noutra dimensão. Noutro mundo. Noutro universo.
Como é possível o tempo passar tão rápido para mim? É impossível.
E a cada dia que passa sinto-me mais distante, de tudo e de todos. Dos meus amigos eternos que já me prestaram muitas provas de carinho, dos meus adorados familiares. Sinto-me longe, sinto-me afastado, sinto-me perdido. Sozinho na escuridão. E a cada segundo que passa, mais sozinho fico.
É possível estar nesta dimensão sozinho? Estou a afastar-me a anos-luz de toda a gente, de todos os que mais adoro.
Todo este mundo que estou a presenciar é fruto da minha mente.
As emoções que estou a viver não são mais que invenções do meu imaginário e do meu inconsciente. Sozinho, é assim que tenho que ficar, a ultrapassar todos os obstáculos da vida.

Longe de tudo, longe dos meus amigos.